domingo, 21 de agosto de 2011

O Quadro



Na cozinha, esfriava seu café, fazendo círculos no ar com sua xícara, ele era todo desatento.
Tinha os olhos para além da fumaça que exalava.
Ela, no quarto, tratava de ocupar o espaço vazio.
Colocava as roupas na mala e tirava-se outras coisas do coração. (Não queria bagagem pesada)
Ele continuava com os círculos, agora com um café morno mas um pouco mais salgado.
Menos adoçante e mais lágrimas.
Ela descia as escadas, quebrando o silêncio estático da casa.
O terceiro degrau, debaixo pra cima, rangia e ele se lembrou que ela o lembrava disso todos os dias.
Já na sala de estar, ela se via a poucos passos da saída. Uma porta pra muitas outras saídas (ou entradas).
Mas antes de dar os passos ela reparou em um problema dentro da casa.
O quadro do pescador que ali descansava, na parede, estava torto. Com poucos toques ela o endireitou.
Pronto, agora era uma casa em simetria ou fisicamente correta.
Olhou para ele, que não mais circulava mas o gosto do café não sentia ainda não.
O olhou e se foi. Não fechou a porta mas lembrou de apagar a luz do coração.
Ele deu um gole no café frio e ficou se perguntando:
Quantos toques seriam necessários para endireitar nossa relação?

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