quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pedaços de mim


Nasci assim, somente um pedaço.
Dizem que há outras partes de mim por ai.
Bobagem... Quem fala isso deve estar apaixonado.

Pra ninguém ouvir


Separei uma folha inteira pra contar meus desejos.

Sobre quem eu sou... Quem eu amo... Meu maior medo.

Mas escrevo tudo isso bem baixinho.

Me lembrei agora que tudo isso é segredo.

Voyer


Se olham, se dizem, se juram, se perdem, se acalmam.
Se juntam, se tocam, se alegram, se mostram, se encantam.
Se fazem de bobos, se fazem de loucos, são muito mais!
Eu fico aqui, do outro lado da praça, só observando o amor brincar.

Tristeza


É final de noite.

Sou final de dia.

Falta-me amor, afinal.

E o fim finda em falta de alegria.

domingo, 20 de junho de 2010

Fria


Era noite fria.
Eu andava sobre nevoa fina.
Fria.
No banco gelado estava a moça, fria.
Disse-me que tinha frio, muito frio.
Sua cor era de neve.
Tirei do bolso minha confiança.
Disse: Toma, se esquente.
A moça colocou a confiança em seu bolso.
Levantou e sumiu, na nevoa fina.
Eu fiquei ali, no banco, frio.

Depois da Tempestade


Eu gosto disso.

Anoitecer em prantos.

Amanhecer nostálgico.

Entardecer um poema novo.

De mudança


Faço pouco caso sobre nossos casos.
Digo bobagens sobre nossas urgências.
Sussurro quando precisamos chamar atenção.
Eu não sou um bom lugar.

domingo, 6 de junho de 2010

O tal do Verbo

No principio era o verbo!

Não, verbo não... Melhor dizendo: No principio era a força!

No principio era só a força de passar sonhando um novo sonho.

Era a força de vencer a madrugada e levantar pra acordar o dia antes dele acordar.

Era a força de passar o café pras crianças, passar a mão na foice e esperar a condução passar.

No principio seu moço, no principio o tempo era difícil.

Ler num sabia não sinhô. Escrever muito menos. No principio a gente não sabia muito das palavras não.

A gente conhece como é a palavra SUOR no rosto, a gente conhece como é a palavra CALO na mão.

A gente sabe como é a palavra MISÉRIA no prato se a gente não consegue plantar a palavra COMIDA no chão.

A gente não conhecia era a palavra PAPEL.

No principio seu moço, no principio o papel era difícil que só vendo! Isso que a gente chamava de escrevinhar... Isso que me ensinaram a chamar de escrever!

Eu parei pra matutar: Quando é que vou fazer a palavra EU ter sentido no papel do mundo?

Olha só, tenho filho já criado e tenho filho pra criar, mas quem é que iria me ensinar a palavra EDUCAR?

Engraçado, me disseram por aí que o tal do verbo é ação num é mesmo?

Pois a ação que tiveram foi a de querer me ensinar! A ação que eu tive? Foi a de querer aprender.

Matemática: 1+1=2

Mas a sua ação de ensinar mais a minha ação de aprender é igual a uma só ação. Mas virá uma ação tão bonita, tão bonita que chega a dar gosto de ver! Chega a dar gosto de sentir.

Pra você ter idéia seu moço, eu soletro pra você entender.

Sentir: S-E-N-T-I-R.

Viu como sentir agora é fácil. Sentir que estou no mundo. Sentir que o mundo é pra ser lido!

Mas desculpa sinhô, desculpa se esse tanto de palavra tomou o seu tempo.

O meu tempo também lá vai se embora. Mas a gente continua a vida, escrevendo por esse nosso chão que é pra vida deixar de lamento.