sábado, 27 de agosto de 2011

O Dia Em Que Tive a Alma Menos Vazia



Hoje me pus a andar, com os passos a ponderar sobre o tempo, distraído e com a alma vazia.
Me peguei onde eu estive  a muitos anos atrás, quando eu era criança.
De repente assustei quando passou por mim um vulto, correndo, uma criança brincando de pega com a Felicidade.
Era a sombra da minha infância, a minha imagem encolhida.
Depois que a Felicidade segurou a criança por um braço e disse: “Tá com você!” E saiu correndo em direção contrária, a minha imagem infantil também começou a correr mas antes de prosseguir com a brincadeira ela parou defronte a mim.
Eu tinha uma singeleza no sorriso e sorrindo disse:
_Calma, você ainda não viu metade da sua vida. A alegria que perdeu hoje irá retornar. Assim como amanhã sempre temos um novo dia.
Enfiou a mão no bolso e entre chicletes e figurinhas tirou de lá um pequeno circulo de luz. Uma luz que emanava um calor forte e tão brilhante que era aos meus olhos me doía.
Me pediu para ajoelhar. Ajoelhei, aceitando o que ela me pedia.
Eu tinha quase a mesma altura da sombra da minha infância.
Com um sorriso ainda mais terno, deslocou a luz que estava em sua mão direto para o meu coração e então o meu corpo explodia!
Senti a delicadeza de um mundo que antes eu não vivia e o este mundo também pareceu sentir a mim.
Percebi que a maioria das pessoas, mesmo jovens, eram cheias de rugas, caquéticas e reumáticas e nesse processo fui perdendo as linhas de expressões que tinha.
Voltei a mim e me vi em lágrimas por tantas emoções que eu sentia.
A criança se despediu de mim. Era a minha imagem me acenando uma despedida. Deu a mão para a Felicidade e voltou a correr desimpedida.
E eu ali, que antes me achava grande, de joelhos eu percebia que muito pouco eu sabia da vida.
Me levantei e voltei a andar. Ainda que sem rumo mas com uma alma muito menos vazia.

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