Difícil é dar ordem para as palavras em um momento de tristeza.
Quando todas as palavras estão separadas, chorando pelos cantos.
Momento em que elas preferem ficar sozinhas olhando as coisas com olhar meio avulso e querendo mesmo enxergar o infinito ou qualquer outra dimensão.
Até mesmo porque quando juntamos as palavras elas se fazem difíceis e não nos falam nada que ganhe muito sentido. (Ou ao menos nada do que queríamos escutar).
Palavras que se esquecem de um tempo presente pra regrar mesmo algum pretérito que deixou de ser perfeito... E nada de pensar no futuro.
Palavras que estavam todas juntas até chegar um ponto final.
Vivia, apesar dos pesares, pesando a vida.
Sem saber que o pesado era somente a dor que eu trazia.
No bolso direito tristeza eu tinha.
Me sobrava o esquerdo mas não sobrava alegria.
Concorde comigo que é diferente.
Radicalizando, podemos dizer até mesmo que é estranho.
Não inclui modo de fazer ou mesmo bula.
Não diz se tempero vai a gosto.
E pra descobrir o remetente?
E pra não deixar errar o destinatário?
Já ouvi dizer que não presta e sempre que tentar trocar vai acabar estragando de novo.
Tem gente que a cada semana se diz feliz com a vinda de mais um.
A cada dia, as vezes...
É gente que diz saber de tudo.
É gente que diz saber de menos.
Eu, já acho o amor bem simples.
Só não sou louco de tentar explicar.
A noite na cidade me parece assim:
Cada luz é uma casa acessa onde moram pessoas as vezes apagadas.
Cada luz não acessa é onde as pessoas sonham os planos as vezes de luz.
Dai-me letras, ó Pai, diante da murmuridão, diante do silêncio, diante da folha com baixa pressão.
Dai-me, antes do sol brotar do solo, antes da lágrima traçar um mapa de meu rosto até ter como limite o chão.
Não me limitai.
Sem linhas e sem métrica.
Ter passe e que se depende de minha vontade aplico a força pra que toda palavra ultrapasse.
E ainda que nada seja fácil e tudo me apareça com disfarce eu darei meu grito e o que era mudo muda de face.
Amor, tal qual quem ajoelha de fronte a sua face, tal qual aquele que de pele tão gasta e grossa, pelos silenciosos calos da servidão castigada, que no ajoelhar não sente mais o chão. Amor, tal como quem te ama, te peço: amor!
Que me sirva de quem tú és não em um banquete a finos pratos e prataria real. Mas sim em um pano estendido em campo aberto, entre meio sol e meia sombra numa tarde que pareça longe do fim.
Que eu coma de tua sinceridade e em teus olhos beber da mais pura alegria.
Que o nosso fim seja apenas a lua vindo anunciar o nosso sono e antes de adormecer teríamos a ação do contrapeso de nossos corpos.
Amor, não te peço nada eterno mas que sejamos sempre além de um dia.
Que um dia sejamos além.
Durma, meu amor.
Durma porque temos tempo.
Seu corpo em meu colo, meus dedos em seu cabelo, tocando seus sonhos.
É tão bonito ver o seu respirar, leve, que me leva e que me deixa assim, meio leviano, de sorriso bobo e olhar brilhoso.
Durma que eu também sonho.
Sonhe que em teus sonhos eu também te amo.
Gozar de minha loucura, assim, sentado em calçada uivando pra lua.
Velho cachorro franzino, vira lata de rua.
Debaixo d'água, perdido na chuva.
Sorrindo alvuso e me sentindo avesso.
Ao contrário das placas, parado em contramão.
Preferindo a alegria do feio do que a tristeza da perfeição.
Olhar no espelho e não encontrar o reflexo ideal.
Bem talvez isso é por não conhecer o que eu quero.
Ou talvez por não saber quem eu sou.
Mas e se busco um outro alguém?
Se não me conheço, este alguém poderia ser eu?
Não gosto de tanto egocentrismo.
Então, pensando bem, busco um alguém semelhante.
O quanto semelhante?
O necessário pra saber quem eu sou.