terça-feira, 6 de março de 2012

O Moço e o Espelho


O moço, que se sentia perdido, pediu para que fossem tiradas todas as portas de sua casa. Dizia que aquilo servia de remédio contra a ansiedade. Não queria mais aquela sensação de “o que me reserva do outro lado?”.
No seu quarto – quadros. Muitos quadros, em todas as paredes! Nada de naturezas mortas ou paisagens lindas e horizontais. A preferência era pelas imagens de pessoas desconhecidas. Tal qual uma platéia! Tal qual andar por entre multidão. Era um exercício de socialização.
Dormia sempre com a luz acessa. Não por medo do escuro, nada disso. O medo era o de morrer! Mais especificamente o medo da morte por solidão. Quem é que o encontraria ali, onde não se vê uma imagem com exatidão? Onde a luz se recolhe, se encolhe, opta pela omissão.
Era um moço... Problemático, digamos assim. Era Diferente.
Era ele e suas particularidades, detalhes, pontos e contrapontos. Versões e aversões.
Mas de todas as manias uma se destacava: Em toda casa nenhum espelho se encontrava.
Nada nas gavetas, no quarto de hóspede ou no interior do guarda roupa.
Nem no banheiro, sequer!
Mas dizem que as vezes ele se olhava no reflexo da água que encontrava na pia e para si mesmo dizia:
_Eu realmente não faço o menor sentido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário