Na cozinha, esfriava seu café, fazendo círculos no ar com sua xícara, ele era todo desatento.
Tinha os olhos para além da fumaça que exalava.
Ela, no quarto, tratava de ocupar o espaço vazio.
Colocava as roupas na mala e tirava-se outras coisas do coração. (Não queria bagagem pesada)
Ele continuava com os círculos, agora com um café morno mas um pouco mais salgado.
Menos adoçante e mais lágrimas.
Ela descia as escadas, quebrando o silêncio estático da casa.
O terceiro degrau, debaixo pra cima, rangia e ele se lembrou que ela o lembrava disso todos os dias.
Já na sala de estar, ela se via a poucos passos da saída. Uma porta pra muitas outras saídas (ou entradas).
Mas antes de dar os passos ela reparou em um problema dentro da casa.
O quadro do pescador que ali descansava, na parede, estava torto. Com poucos toques ela o endireitou.
Pronto, agora era uma casa em simetria ou fisicamente correta.
Olhou para ele, que não mais circulava mas o gosto do café não sentia ainda não.
O olhou e se foi. Não fechou a porta mas lembrou de apagar a luz do coração.
Ele deu um gole no café frio e ficou se perguntando:
Quantos toques seriam necessários para endireitar nossa relação?
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