E as palavras que aqui estavam saíram todas à viagem. Assim,
sem aviso prévio, mas me deixaram um bilhete:
“Pedimos desculpas, estávamos todas aqui unidas a ti, mas é
tempo de passagem. Não é tempo para palavras de acalanto. É tempo de silêncio e
verdades.
Se antes dormíamos ao teu lado, proseando até mais tarde,
hoje vamos lhe deixar só e perceba que estar sozinho não é motivo para fazer
alarde.
Vê que teus poemas, os antigos e os quases antigos, já
descansam em paz. Alguns até mudaram de nome, em alguns agora lemos ‘aqui jaz’.
Vê que você usou tantas palavras em vão e antes que você
também nos mate nós vamos dizer ‘até mais’.
Aproveita agora a casa vazia e se esvazie também. Abre a
janela pra tirar o mofo da vida.
Conserta teu caminho, poeta da calçada. Lembre-se de quem tu
eras, lembre-se de quem somos e assim nossa despedida vai virar chegada."